domingo, 14 de julho de 2019

Dr. Júnior Bonfim e Frei Hermínio, um bandeirante cosmopolita dos radicais fonético e um dos poucos literatos brasileiros lidos e cujos livros didáticos são adotados no Vaticano, são oriundos do mesmo aquífero familiar de um clã genial: Bezerra Bonfim. Frei Hermínio, segundo Bonfim, um frade capuchinho que conviveu com Belchior e Jorge Amado, é um polivalente de muitos dotes intelectuais: poliglota, filósofo, professor, numismata, filaterista e dicionarista; e psicólogo por formação acadêmica. É o resumo da crônica genial de Júnior Bonfim sobre Frei Hermínio!

FREI HERMINIO BEZERRA
Frei Hermínio e eu somos oriundos de um mesmo e sedutor aquífero familiar, situado sob o leito do Rio Poty, nos sertões de Crateús. Somos parte de uma Pátria comum, a Pátria Alexandrina, o clã Bezerra Bonfim, cuja fundação ocorreu por engenho de um Ferreira Santiago - militante do servir, nobre de alma, usuário do gibão, rebento da civilização do couro que se tornou Promotor Público e foi registrado por uma tia, dita Bela, como Alexandre Ferreira do Bonfim.
A bússola do destino me conduziu para os poços termais da advocacia e crismou Frei Hermínio como um missionário da fé e confessor das sílabas ousadas. Juntamo-nos aqui nesta loira cidade desposada do sol, no terreiro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF), ao lado de outros amantes das letras que trazem no peito as orquídeas das nossas serras ou exibem na pele as jitiranas do nosso sertão ou conservam na espinha dorsal a altivez dos coqueiros do nosso litoral. Todos, cortejando uma índia de lábios de mel de nome Iracema, beijamos a sagrada flor da literatura, piano divino que torna mais doce a existência.
A Literatura é uma literal criatura cujas raízes costumam nos consumir do talo dos pés à palma das mãos. Costumeiramente, lança-nos à légua tirana das rotas surpreendentes, sob o tufão do espanto e da admiração. A trilha Herminiana como bandeirante dos radicais fonéticos, tal qual os percursos do trem da sua infância, está marcada por algumas indeléveis estações. Ele mesmo as cita: Rosa Ferreira de Moraes, a primeira Professora, sacerdotisa da educação à margem do Rio Poty, na Crateús do Senhor do Bonfim; Fernanda e Helena Mattos Brito, na terra do pássaro vermelho, a aprazível Guaramiranga; Lúcia Dummar, sob o embalo dos verdes mares desta Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção; e José Lopes dos Santos, debaixo da verde cabeleira de árvores da Capital do Piauí.
Suponho que outros filhos de Deus cruzaram sua vereda existencial e também salpicaram de estrelas os seus aposentos literários.
Na década de 1960, no Mosteiro dos Capuchinhos, em Guaramiranga, entre aquele conjunto de espaços curvados em forma de arco e sob o adorno de belos jardins, Frei Hermínio conheceu um outro jovem vindo do interior – que “adoçava o pranto e o sono, no bagaço de cana do engenho e era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais/ Como um galo, quando havia… quando havia galos, noites e quintais”, então chamado Frei Sobral e que, alguns anos depois, despontaria como o maior nome da Música Popular Brasileira: Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes – ou, simplesmente, Belchior, o mais alado e elevado letrista germinado no Brasil dos últimos cinquenta anos.
O clã Bonfim & Bezerra - ao qual pertence Frei Hermínio, nascido Afonso Bezerra de Oliveira em uma sexta-feira, 13, do ano da graça de 1945, na antiga Freguesia de Pelo Sinal, depois Município de Independência e, hoje, Quiterianópolis – tem vínculos soteropolitanos. Explico. A imagem do Senhor do Bonfim que guarda a Catedral de Crateús (Imagem e Igreja, réplicas do templo situado na Sagrada Colina, na península de Itapagipe, em Salvador) veio da Capital da Bahia para o Ceará nos ombros de escravos. O sobrenome Bonfim, de Alexandre, Patriarca da Família, homenageia o Padroeiro de Crateús.
No início dos anos 1970, a mão do destino conduziu Frei Hermínio para cursar Psicologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde se familiarizou com celebridades como a formosa Martha Vasconcellos, a miss universo de 1968, que fez psicologia após seu reinado no ano de 1969, destacando-se pela simplicidade; bem como Paloma Jorge Amado, filha de Jorge Amado, que possibilitou ao Capuchinho Cearense conversar algumas vezes com o famoso autor de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, em sua casa no Rio Vermelho. Amado, que escrevia numa velha Remington, certa feita confidenciou: “Frei, eu sou um trabalhador braçal”.
Salvador da Bahia, naquela quadra frenética, hospedava, além do casal Jorge Amado e Zélia Gattai, outros letristas famosos como Vinicius de Morais, Carybé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo Coelho e Raul Seixas. Este último, que filosofava na mesma Universidade em que Frei Hermínio estudava, cabeludo e irreverente, gritava nos corredores: “Pare o mundo, que eu quero descer!”
Essa convivência plural fez brotar esse ser misticamente singular: filósofo, teólogo, psicólogo, professor, numismata, filatelista, dicionarista, colecionador de palavras e objetos que hoje felicito. Felicito o ardente sertanejo, terceiro filho de Miguel Fernandes de Oliveira e Luíza Bezerra de Oliveira, uma mulher de fibra extraordinária! Felicito esse Hermínio, variante de Hermes, que significa ‘apoio, sustentáculo’. Felicito aquele que, segundo Zacharias Bezerra de Oliveira, um seu irmão que fez peregrinação profissional por vários países a serviço do Ministério das Relações Exteriores, é o mais assemelhado com a mãe, apesar de ser o que com ela menos conviveu. Felicito-o pela maior de suas virtudes, o apoio à simplicidade!
(Júnior Bonfim)A imagem pode conter: 3 pessoas, incluindo Júnior Bonfim, pessoas sorrindo é escritor consagrado de várias academias de Letras, advogado dos mais admiráveis e respeito intelectual de Crateús e do Ceará.

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