Depressivo e isolado na cidade gaúcha de Santa Cruz, o genial Belchior, nascido Antonio Carlos na cidade cearense de Sobral, morreu aos 70 anos de idade.
Autor do sucesso total, "Apenas um rapaz latino-americano": sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, vindo do interior/mas sei que nada é divino, nada é maravilhoso".
Música em que assumiu sua identidade latino-americana na luta contra a ditadura e as torturas e os assassinatos, bem as instituições que pregavam o Deus capitalista.
No mesmo sentido. "Tudo outra vez", outra genial canção, abordou o tema ditadura pela sua condição de exilado em Paris e no sonho da volta da democracia:
"Minha rede branca, meu cachorro ligeiro, Sertão olha o Concorde, o fim do termo saudade com o charme brasileiro a cismar/E um cara que transava à noite no Danúbio me disse que faz Sol na América do Sul e nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil".
"Velha Roupa Colorida", outro grande sucesso de Belchior, simbolizou o anarquismo tipo hippie e o desbunde tropicalista de Belchior:
Você não sente e nem vê que uma nova mudança em breve vai acontecer e o que há algum tempo era novo jovem hoje é antigo e precisamos rejuvenescer/nunca mais eu convidei minha menina para correr no meu carro (loucura, chiclete e som) nunca mais você saiu à rua em grupo reunido e o dedo em V e amor e flor que dê um vento".
"Divina Comédia Humana" foi um duro golpe no consumismo sexual da prostituição capitalista, preferindo o amor eterno e mais profundo:
"Porque o amor é uma coisa mais profunda que uma transa sexual ai um analista amigo meu disse que desse jeito não vou viver satisfeito/fazendo tudo de novo e dizendo sim à paixão morando na filosofia/eu quero gozar no seu céu, pode ser no inferno/viver a divina comédia humana onde nada é eterno.
Apesar das lutas, dos sonhos revolucionários, das utopias, a reação conservadora e tradicional é mais forte do que a juventude rebelde.
Belchior cantou isso em "Como nossos pais":
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo tudo o que fizemos/ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
Resumo das músicas de um dos mais geniais cantores da MPB em todos os tempos.
Belchior ficará para sempre em nossa memória.
Fica com Deus e sem medo de avião no Céu, Belchior!
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Autor: Professor Tim é cientista político e blogueiro.
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