CÁSSIA ELLER - PRIMEIROS 14 ANOS NO ALÉM
" Se eu disser que o inferno existe, acreditem, pois eu estava mergulhada nele, num espaço sombrio e frio, sem tempo, sem luz, nem descanso e afogava-me, a cada segundo, num oceano de matéria viscosa que roubava até minha ilusória alegria... somente nuvens cinza e chuvas com raios e trovões, gritos estridentes e desesperados, pedidos de socorro, lágrimas, tristeza e revolta...Animais que nos mastigavam e, em seguida, nos devoravam sem consumir nossos corpos . Quanto mais me debatia no fluido grudento, mais me afundava, e quando alcançava a superficie, mãs e garras afiadas faziam-me submergir naquele líquido pastoso e malcheiroso. Dragões lançavam chamas de suas bocas sujas e nos queimavam. Guardiões das trevas atentos vigiavam todos os movimentos. Ali somente dores, lamentos e arrependimentos tardios. .. O ar era ácido e provocava convulsões diversas... Eu fora expulsa do corpo pelo uso maciço de drogas e as crises de abstinência impediam a saída daquele campo de viciados como eu... Assemelhava-se a um pesadelo sem fim, sempre com final trágico e apavorante.Quando conseguia cochilar era insultada por seres que me acusavam de suicida maldita e jogavam-me lama misturada com pedras...Insetos e anfíbios ajudavam a traçar o perfil horrendo dos anos que passei no umbral ( purgatório ). com a morte nós não vamos para o umbral, nós já estamos quando tentamos as leis maiores da criação com nossas tendências viciantes e más intenções. O umbral não foi criado por Deus. Foi criado por espíritos que necessitam se depurar de suas construções aleijadas no campo dos sentimentos e pensamentos disformes conduzidos por nossa irresponsabilidade. Um dia acordei numa tarde serena, num campo verdejante e calmo. Parecia um sonho. Percebi o canto de uma ave que insistia em acordar-me daquele pesadelo no qual já me acostumva a viver; a morrer todos os dias... Seu canto era uma música que apaziguava meu coração... Consegui sentar-me e deparei-me com milhares de seres como eu, nas mesmas condições de debilidade moral, usufruindo agora, de um bem que não merecíamos. Centenas de enfermeiros olhavam-nos atentos. .. alguém me tocou de leve. Era Cazuza, todo de branco, como lindo enfermeiro e estendeu suas mãos para que eu me levantasse... Uma enxurrada de lágrimas vertia dos meus olhos. Meu ídolo ali estava resgatando e cuidando de sua fã, debilitada e muito carente. .. A misericórdia divina sempre conspira a nosso favor, nós desdenhamos do amor divino com nossas desatenções e desequilíbrios das emoções. Somente agora compreendo que sou espírito e que a vida continua e que temos que respeitar as leis. Após um tempo no campo reconfortante fui conduzida a um hospital onde me recupero até hoje. Minha próxima reencarnação será dolorosa numa comunidade carente no interior do Brasil. Passarei por muitos reveses para despertar em mim o valor da vida do espírito na pobreza e na doença crônica. Expiarei asma, deficiência mental e tuberculose. Peço orações e caridade dos corações. Invistam suas forças e energias espirituais em trabalhos de amor ao próximo e serão, naturalmente felizes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário