domingo, 26 de junho de 2022

Publicando na íntegra o mais genial, o mais bem escrito, o mais completo textão sobre a Década de 60 em Nova Russas: obra da genialidade do doutrinador espírita José Matos Matos, que viveu os anos 1960 em sua querida Nova Russas.

 NOVA RUSSAS DOS ANOS 60

A década de 60 foi um divisor de águas em todo o mundo. A nova geração se opunha a geração certinha, educadinha e orgulhosa da década anterior. Com os Beatles e artistas brasileiros vieram os cabelos grandes, blusões, botas, cintos largos, rock, rebeldia e o ideal de paz e amor. Nova Russas não ficou de fora e as notícias sobre a intolerância dos velhos pais se espalharam; em muitos lares os pais proibiam os filhos vindos de Fortaleza de só adentrarem o lar após cortarem os cabelos. A direção do Clube de Nova Russas entrou na onda de intolerância com os cabelos grandes e quase chegavam a medi-los pra permitir a entrada. Mas, como a rebeldia veio pra ficar, acabaram relaxando.
A energia da cidade vinha de um motor comandado por Seu Didico que, com a chegada do Patronato e a vinda do povo do campo para a cidade, ela cresceu e foi preciso substituí-lo pela velha caldeira. Nada mudou porque ela, como o motor, parava às 23h, começando os avisos ( de apagar e acender ) às 22h. Era preciso tomar o refresco de maracujá do Zé Januário com um pão seco e partir porque o medo de almas e lobishomens era grande. Zé Januário, sempre cochilando, mas nunca errando o troco. A velha caldeira quase transforma o campo em deserto pelo consumo de lenha e vivia sempre quebrada, então, tínhamos a paciência do Edvá, o cuidador da caldeira: o que foi Edvá? foi o burrinho que quebrou. Era sempre o burrinho. Não era mole, quase toda a cidade com a mesma pergunta e o Edvá com a mesma resposta: foi o burrinho que quebrou. A falta de energia não era ruim porque as geladeiras eram movidas à querosene e aproveitávamos a escuridão pra brincar e, alguns rapazes aproveitavam para engravidar algumas meninas, mas depois, o casamento era obrigatório. Aproveitando-se desta obrigatoriedade, alguns malandros engravidavam as namoradas porque sabiam que, em condições normais, os pais não permitiriam os casamentos.
Não tínhamos água encanada e ela vinha de poços ou cacimbas trazida pelos carregadores de água. Foi uma festa quando, finalmente, o sofrimento acabou com àgua encanada e energia permanentes. Tínhamos a pracinha da estação onde as mulheres rodavam num sentido e os homens em sentido contrário. Na praça chegava o som do auto-falantes do Zé Martins: "esta gravação é que um alguém oferece a outro alguém por está muito apaixonado. Não diz o nome para não fazer confusão". Era o medo de levar um fora. Como á luz acabava cedo, criou-se a tradição das serenatas com o seresteiro Zé Martins, ele mesmo um eterno apaixonado que teve uma paixão interrompida pelo Adelbar. Era uma paixão por uma moça que morava na casa do Adelbar; Zé perdeu o SIMANCOL e passou a fazer serenatas todas as noites atrapalhando o sono do Adelbar que resolveu vingar-se; levantou-se de madrugada, cagou na calçada e disse pra moça que tinha sido o Zé. Acabou a fantasia do Zé que até hoje fica vermelho quando lembram este "Incidente em Antares". kkkkk
O Zé Martins também foi protagonista do futebol fundando o Maguary, time de futebol que jogava de mangas compridas e tinha o Fragoso como goleiro, um esqueleto de 1,90m de altura que não pegava absolutamente nada. A certa altura do campeonato, houve revolta dos jogadores que cortaram as mangas das camisas e o Zé ( que não usa mangas curtas ) parou de jogar. Certa vez, após uma derrota de 7 X 0, Ary bodó, pra infernizar o Zé, perguntou-lhe: quanto foi o jogo, Zé? Zé, não respondeu, apenas, resmungou: ainda compro um revólver pra dar um tiro num filho duma égua deste. kkkk
A década de 60 foi a melhor década de Nova Russas. Não havia drogas, brigas, algumas meninas perderam a timidez e podíamos dançar colados. Tínhamos teatro pelas freiras, cinema por seu Chico paiva, futebol de primeira qualidade, voleybol, ganhamos o Colégio Estadual com o professor e ex-deputado Jorge Abreu e a ordem no Ginásio comandada por Ody Evangelista, as fábricas de beneficiamento de algodão do Seu Zé Rosa, do Seu Antonio Joaquim, de sabão do Seu Antonio Carvalho e de refrigerantes do Seu Raimundo Paiva, o Banco do Nordeste, a banda de música comandada por Mestre Celso e o conjunto, "os coçorocos" (aleijados ), comandados por João Pezinho (aleijado de um pé ), Antonio Rufino ( aleijado de um pé ), Chico Rosa ( aleijado dos dois pés ) e os não aleijados: Alcebíades, Albino, Peba e Chico Teodorico ( cantor ). A ligação Fortaleza-Nova Russas foi feita por ônibus além de trens e a estação tornou-se ponto de encontro. A expressão "partiu", indicava que o trem tinha saído de alguma cidade. O trem não tinha horário e quebrava muito, mas tudo era
divertimento
. Tínhamos também a JUNOR - local de encontro dos jovens na praça da igreja. Finalmente, quando terminávamos o primeiro grau, tínhamos que partir porque a cidade não oferecia segundo grau preparatório para o vestibular; é assim que temos novarrussenses em todos os quadrantes do Brasil e do mundo. Salve Robéria, Leila e Cida na França, Gregorina no Alaska, Keta e Toinha Tavares na Suiça, etc.
José Matos


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DF

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