quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Entrevista do Blog Professor Tim com o filósofo Vattimo.

Blog Professor Tim -  
Como Deus e teologia entram no debate filósofo do seus livros e teorias filosóficas?
Gianni Vattimo - Mais ou menos assim. Quando dizemos que Deus existe, isso quer realmente dizer que o encontramos em algum? Isso hoje não tem muito mais sentido, mesmo se tal concepção remonta a Aristóteles. Não afirmamos que haja um fundamento último: nas filosofias contemporâneas, o que realmente importante é a relação entre o ser e a linguagem, como dizia Heidegger quando afirmava que a linguagem é a casa do ser, porquanto o ser se dá com evento acima de tudo linguístico. 
Tal evento é visto como um conjunto de critérios para a verificação de falsificação de proposições postas dentro de um horizonte histórico e cultural não de todo arbitrário, na medida em que está ligada à herança cultural e às tradições, à mistura de culturas diversas.

Se o ser não é um objeto real diante de nós, o pensamento deve considerar essa transformação que não é só do pensamento. Nós não pensamos que haja o ser, imaginado de formas diversas: se o fato de imaginarmos, o ser em formas diversas faz parte da história do ser, então se trata de compreender, propondo interpretações, dessa história dos nossos modos de interpretar através das linguagens. 

Blog Professor Tim - Quais as implicações religiosas, teológicas, estéticas e culturais na base do Pensamento Forte?
uma filosofia da história fundada sobre a idéia do enfraquecimento das estruturas do ser como sentido de emancipação da história humana; emancipação que vai exatamente na direção de um enfraquecimento das estruturas objetivas, ou seja, daquilo que a metafísica chamava o ser.
Explico-me melhor: se nós entendemos que não é possível imaginar um fundamento último da realidade como dado objetivo existente, estamos na posição de quem recebe mensagens e as interpreta não arbitrariamente, mas com base em outras de seres providos de cultura, de civilidade.
As razões que posso adiantar para justificar o bom senso das minhas teses filosóficas são, como dizia do tipo histórico-cultural: perguntarei ao meu interlocutor se leu Marx, Freud, Nietzsche, ou seja, aquilo que pertence à tradição da qual descendo, a única coisa da qual disponho para argumentar, uma vez que, não possuindo o fundamento último da realidade, sei que  não posso falar dele. 
O que proponho como argumento é uma interpretação da história, do ser, da linguagem das culturas às quais me refiro; dados esses fatos, esses eventos, esses livros que li, essa transformações sociais parece-me razoável falar de uma coisa do que de outra.
A História da cultura não é apenas minha, mas é a História do Ocidente tornada absolutamente universal. Nela encontro a Bíblia, o pensamento filosófico grego, a herança teológica cristã, a história da política dos estados modernos e mai ainda, mas tudo reagrupável sob a categoria do enfraquecimento. 
Por exemplo: com as religiões assim chamadas primitivas, as religiões naturais que pensam em um Deus como ente misterioso e supremo, do qual não se entende bem o que qeur e o que não quer, a revelação bíblica do Antigo Testamento e a do Cristianismo jã são um enfraquecimento, isto é, Deus não é mais tão misterioso porque nos falou, nos disse.

Max Weber nos falou que a modernidade capitalista é o produto de um interpretação secularizada, mas nem por isso menos sacra, da ética cristã:aprende-se a economizar, a mortificar os desejos imediatos, a utilizar os bens da terra para produzir outros bens porque nisso não parece um sinal da predileção divina, mas tudo isso é cristianismo enfraquecido, secularizado.

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