segunda-feira, 27 de março de 2017

O tempo não pára, na expresão de Cazuza, e não dá meia volta, no conceito do intelectual Montezuma Sales. Mais um excelente artigo do intelectual crateuense.

TEMPO NÃO DÁ MEIA VOLTA
Ha 50 anos, dois jovens conviviam. Um por um capricho do coração, tinha olhos, suspiros, palpitações por outro. Por um segundo, quem sabe um terceiro. Nunca por o de agora, que agora feito uma Fênix, surge das cinzas dos amores não correspondidos. Um, o outro, por um arremedo de vocação religiosa, impedido até de se aproximar, mas não de cultuar encoberto por uma batina, um sentimento dos mais nobres, regurgitava uma paixão, muito comum nos seminaristas dos anos 60. Batina servia mesmo para encobrir a exuberância de incontroláveis hormônios.
Embora, claramente não correspondido. 
O tempo passa, e ele passa sempre. E com sua passagem deixa marca, rachaduras, lacunas, folhas em branco. Como elemento da Natureza, que o é. o tempo. Natureza que nunca dá saltos. Quanto mais de 50 anos!
Os jovens dos anos 60 que se conheciam, mas não provocado o frio no estomago simultâneo, se afastaram. 
Uma noivou, quase casou, não casou. Outra vez, não noivou, casou, teve filhos, hoje tem netos. Viveu por 50 anos uma vida monástica. E agora quase já colocando o pijama, ouve o assovio chamando para compor uma sonata dos anos 60. Uma sinfonia incompleta, sem as devidas partituras.
O outro, largou a batina, que na realidade, nunca usou. 
Uma construiu uma vida distante, dissociada da outra vida que prosperava distante. 
Neste interstício de meio século, muitas vidas foram construídas. 
E em todas elas, nada, absolutamente nada contribuem para que este reencontro, este resgaste conflua para os melhores propósitos. São vidas atreladas às outras vidas e outras historias, sem nenhum ponto de intercessão com esta nova pretendida. Um conjunto de exclusões.
Ha 50 anos, uma pagina, no livro da vida do seminarista apaixonado ficou em branco. Ou no máximo repleto de garranchos desesperançados. O vento do tempo, feito um vendaval dá neste livro e o leva de volta depois de 50 anos para esta página em branco. 
Aquele seminarista desvocacionado para os mistérios da Igreja, hoje sabido do celibato resolve com a conivência daquele amor personificado, rescrever, preencher aquela pagina. Não é possível. A tinta pilot qualou, secou. Não escreve, borra.
Os impedimentos são todos. 
A caligrafia mudou. A ortografia mudou. O frescor jovial é um moribundo. 
Neste interstício de 50 anos, cada um componente dessa aventura construiu um mundo, desconexo do outro. A ponte que se pensa construir é fincada nos alicerces do devaneio. 
Um mundo que não cabe no outro. A roda grande não entra na pequena.
Mundos que não se conhecem, quanto mais se complementam. 
Os amigos de um, sequer ouviram falar neste amor de sacristia. 
Os amigos do poder, acharão estranho a presença daquele personagem saído de uma sinopse de Dias Gomes, Janete Clair, circulando pelos salões, salas, onde o outro fez sua vida. Entre um e outro 50 anos, agoniado, atoleimado, vocifera a sua inconformidade.
Uma característica dos jovens de hoje e sempre neste assunto de sentimentos, de coisas do coração é a tolerância. A falta de amor próprio, de vergonha de cara. O não receio de recuar, para depois se possível avançar. Ata, desata um milhão de vezes. Ataca, recua. Agride, pede perdão. A figura do "ficante" representa tudo isso.
Depois de 50 anos, a tolerância já gasta, residual, não suporta o menor dos deslizes. E quem pensa que a esta altura da vida refazer o seu velho mundo depois do fracasso do novo, não é, e nunca será uma tarefa fácil.
Não. não acredito neste tipo de resgate sentimental. É um capricho! Capricho é afeito a irresponsabilidade juvenil. Passando disso, é desatino.
Capricho ele é muito bom, para Novelas de Gloria Magadã, a maga novelista mexicana. É o que penso. É o que entendo. Mas, o que importa o que penso?

Autor: Montezuma SalesA imagem pode conter: 1 pessoa, óculos de sol, barba e close-up é dentista profissional, advogado e conceituado intelectual de Crateús.

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